MDMA e psilocibina são aprovados como medicamentos.

Muitos estão comemorando a decisão da Austrália de abrir caminho para essas terapias psicodélicas, mas ainda existem dúvidas sobre a acessibilidade.

Administração de Produtos Terapêuticos da Austrália - a autoridade governamental responsável pela regulamentação de medicamentos - anunciou que, a partir de 1º de julho de 2023, psiquiatras autorizados poderão prescrever MDMA para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático e psilocibina, o ingrediente ativo dos cogumelos mágicos, para depressão resistente ao tratamento.

A decisão foi uma grande surpresa. No final de dezembro de 2021, a mesma entidade reguladora decidiu contra o uso dos medicamentos para utilização em contexto médico. "Quando acordei, meu e-mail estava cheio de pessoas dizendo: 'Você ouviu o que aconteceu?' Fiquei chocado com a decisão", diz Simon Ruffell, psiquiatra e pesquisador sênior do Psychae Institute da Universidade de Melbourne.

O caminho para um psiquiatra obter autorização para distribuir as drogas pode ser longo. Primeiro, os psiquiatras precisarão ser aprovados pelo Esquema de Prescrição Autorizada da Austrália, o que significa ser endossado por um comitê de ética em pesquisa humana e depois pela Administração de Produtos Terapêuticos da Austrália. Para isso, eles precisarão provar que podem justificar clinicamente o regime de tratamento, que terão uma governança adequada sobre o processo de tratamento e que usarão medidas adequadas para proteger os pacientes.

E não é qualquer psiquiatra ou psicólogo que pode administrar com segurança esses tipos de terapias. Ruffell aponta que em práticas psicodélicas indígenas bem estabelecidas em todo o mundo, as pessoas passam de cinco a 10 anos, pelo menos, treinando para poder trabalhar com esses tipos de substâncias. “Acho que um grave erro seria pensar que as qualificações psiquiátricas e psicológicas são transferíveis para substâncias psicodélicas sem treinamento adicional.”

Uma barreira ao acesso provavelmente será o custo. Os tratamentos não serão cobertos pelo plano de saúde, “então provavelmente inicialmente será uma terapia para pessoas que têm essas condições”, diz Perkins.

Alguns temem que a Austrália esteja colocando a carroça na frente dos bois em termos de segurança e efeitos a longo prazo desses tratamentos. “Ainda nem analisamos dados de longo prazo”, diz Ruffell. “Os dados mais longos que temos são de 12 meses. Nós realmente não sabemos o que acontece mais tarde.”

Mas, por outro lado, “o benefício, particularmente para as condições resistentes ao tratamento de que eles estão falando – PTSD e depressão – pode ser realmente enorme”, diz Perkins.

Há uma sensação de surpresa pelo fato de a Austrália ser a primeira a aprovar esses medicamentos. No início de 2023, Oregon se tornou o primeiro estado dos EUA a permitir o uso adulto de psilocibina “sob a supervisão de um facilitador certificado pelo estado”, embora a substância continue sendo uma droga experimental não aprovada nos EUA por enquanto. Prevê-se que a Food and Drug Administration dos EUA aprovará o MDMA para o tratamento de TEPT em 2024. A Suíça permite que um número limitado de psiquiatras use LSD e MDMA para auxiliar na psicoterapia. A forma como o esquema se desenrola na Austrália provavelmente afetará se outros países optarão por oferecer os medicamentos para fins terapêuticos no futuro - e isso inclui se der errado e as pessoas forem prejudicadas. “Acho que os olhos do mundo estarão de olho na Austrália agora”, diz Ruffell.

Para Ruffell, o otimista que há nele está empolgado com o fato de a medicina psicodélica estar finalmente chegando a algum lugar. “E então o pessimista fica tipo, isso pode ter um resultado negativo?” ele diz. "Espero que não. Mas isso será determinado no futuro.”

matéria completa: https://www.wired.co.uk/article/australia-psilocybin-mdma-approval

imagem: PHOTOGRAPH: JON CARTWRIGHT/GETTY IMAGES